gotas de vida
pessoas e momentos fictícios. pseudo-realidades que habitam uma mente.
episódios imaginários transcritos para o mundo material.
o carro
a animada confusão de sempre. o delírio de quem vê o mundo com olhos de rir.
as constantes gragalhadas interrompidas pelo silêncio que nada de bom auncia. pois depois de uma estupidez, uma outra maior surgirá.
ela. no seu canto está tranquila e ri-se com eles. ele conduz. trapalhão como sempre. distraído com eles. eles riem no banco de trás. constantes macacadas em horário não muito habitual para eles. a noite só agora começa a aparecer. mas qualquer hora serve para os seus impulsos de loucura controlada. em qualquer lugar, qualquer pessoa corre o risco de ver algo exorbitante vindo deles.
são loucos dizem uns, são jovens dizem outos. insconscientes ou drogados dirão eventualmente muitos. ou então, talvez sejam apenas livres, e jovens, ou mesmo putos de 20 e alguns anos, quase 30. porque ser puto não quer dizer ser infantil, quer dizer que se acredita em qualquer idade em travessuras, em anedotas, em fazer rir de maneiras estúpidas, em acreditar... acreditar em algo que nos pareça altamente improvável porque não é impossível. é acreditar nos amigos, é jogar à bola no meio da rua com outros putos de todas as idades. constantemente desafiar os amigos em apostas estúpidas, jogar consolas até altas horas da madrugada, pregar partidas uns aos outros e rebolar a rir no final.
a confusão. dentro e fora. dentro por 3 vozes cada uma a falar de uma cena. fora por causa dos carros. resultado das brincadeiras: o carro mal parado e automobilistas de bigode farfalhudo com ar de chateados a fazer gestos de "anda com isso para a frente!!".
passa diz um, não passa diz o outro. caga nisso e deixa aí o carro, eles que passem por cima diz o terceiro. risada total dos quatro.
lá vão os senhores de bigodes farfalhudos todos irritados. fixam um olhar de mau e chatedos quando passam pelo carro e veêm os quatro a rirem-se. ainda a rirem-se...
a suspensão traseira eleva-se. eles saiem do carro vão ver a montra, espalhar pela vila a sua alegria. vão apanhar ar, enquanto ele e ela esperam. a espera é dolorosa, ainda se suspira e tenta-se voltar a respirar normalmente.
eles os dois, dirigem-se à loja para ir buscar o que necessitam.
no seu caminho até à loja da vila ele ainda se ri ao ve-los pelo espelho retrovisor. acalma-se. pelo contrário ela não está calma.
o silêncio instala-se. ela pergunta-se se o silêncio o incomodará. aparentemente não, ele está na boa. sempre com os olhos na vida do passeio da vila.
sim, talvez seja o momento de lhe dizer. mas, como irá ele reagir. ela conhece-o ao ponto de o não conhecer. de não saber se ela irá levar aquilo a bem ou a mal. mas a vontade ´e muita, é algo que está há demasiado tempo escondido, guardado em si.
sim, este é o momento de ele saber.
mas... ele nunca topou nada. talvez o melhor é não dizer nada. pode ficar chateado. ele sempre foi instável nas suas emoções, dele nada se pode ter como certo em termos de reacções.
inquietação e desassossego. porquê guardar as palavras aidna mais? será qe vale pena continuar com essa dor? ou essa dor será mais facilmente suportável do que a da reacção pós-anúncio?
ele vira-se de repente para ela. ela sustém a respiração. o tempo parece mais lento. será que ele topou? porque será que ele se virou? será que ele vai dizer algo? sobre isto? sobre o que ela sente? mas como saberá ele se ela nunca lhe disse?nem a ele nem a ninguém? como poderá ele saber? e porque estará ela a pensar em hipóeses que nem o devriam ser.
ele olha-a e diz: lá vêm aqueles dois. olha só para a moca deles e para a cara da velhota no passeio!! ehehe já deve estar pedir ajuda para eles aos seus santinhos.
as portas abrem e entram as risadas e eles. a mudança é engatada e o carro arranca. ele distraído como sempre nem repara que quase bate no caixote de lixo que se encontra à sua frente. lá vão eles. lá vão eles dar asas à sua imaginação.
e ela. calada. aqueles 2 minutos foram longos. e foram curtos. mas no fim de contas não foram nada. ela teve uma boa oportunidade. a oportunidade que queria e que nunca teve, e no verdadeiro momento apenas existiu o silêncio.
[janeiro 2006]
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