Ouço as outras vozes enquanto me questiono se te devo olhar.
Sinto-me observado e olho-te. Por um momento os olhares cruzam-se mas rapidamente se desviam devido a uma timidez que em nós existe.
Há algo em ti que me encanta. Uma aura de tranquilidade que te envolve. Não consigo evitar ser contagiado pela tranquilidade que me transmites quando falamos.
Mas por vezes, sinto e sei que não é uma tranquilidade calma. É sim triste, triste com apenas uma pequena réstia de esperança, já quase desacreditada, que tento fazer sorrir, para que vejas que ela ainda existe.
Mas sinto-me tão inútil. Inútil porque raramente consigo fazer-te sorrir, inútil por não saber dizer as palavras certas no tempo certo.
Sinto-me inútil porque me quero aproximar e não consigo ultrapassar uma barreira. Não te consigo chegar. Apenas tocar com um sorriso... mesmo que ele seja tão inútil como eu.
Sinto-me inútil quando me cruzo contigo na rua e apenas troco palavras tímidas. Quando quero conversar e não consigo. Quando quero chegar a ti, mas essa tua traquilidade impede-me de tentar forçar, por me parecer que estou a violar um espaço que é demasiado teu, que não queres que eu veja ou entre...
E então olho-te... mas penso que nem o meu silêncio fala nessas alturas.
Apenas te olho. Apenas te olho na tua bonita tranquilidade triste.
Apenas te olho e despeço-me de ti com um sorriso tímido, e muitas palavras por dizer com um chá a acompanhar.
(para a m.)
[abril 2007]