24 dezembro 2007

(des)equilíbrios

induzo-me a um natural maior estado depressivo. fujo das pessoas e das minhas frustrações e más interpretações e reduzo o mundo a quatro paredes. forro as paredes com música enquanto deslizo por esta minha espiral.
procurei em mim sorrisos e não achei. procurei esperança e ri-me de tamanha parvoíce.
a estrela hoje apagou-se. eu apaguei-a.


(mas uma estrela acendeu-se. nas conversas que a noite proporciona, descobri que hoje a esperança brilhou em alguém e a aqueceu. é bom ler e sentir assim as pessoas.
confesso também o meu egoísmo: também é bom saber que nossa escuridão vemos uma estrela que gostamos a brilhar ao longe.)


[dezembro 2007]

21 dezembro 2007

o mundo não gira à tua volta.

se parares o megalómano carrosel circense que montaste em redor de ti, poderás ver que os mundos mantêm-se através das pequenas coisas. essas que ignoras.
equilibrios insensatos que colocas em risco sem ter a noção.
o efeito borboleta não é uma realidade próxima. Mas é uma realidade...


[dezembro 2007]

20 dezembro 2007

dia cinzento de melancólica harmonia.
dia que foi perdendo os seus objectivos à medida que o tempo passou.
ele, sem propósito e abandonado, encontra sempre uma negação às suas questões, ao seus convites. o mundo fecha-se sobre ele, as oportunides perdem-se.
resta um passeio solitário pelas ruas com a música nos ouvidos. triste e melancólica claro está; ele não quer estragar a harmonia. e ela não o deixa.

[dezembro 2007]

22 novembro 2007

despedidas ao nascer e ao por-do-sol.

noites que têm o teu nome.
ruas que sem ti não fazem sentido.
silêncios com o teu olhar.
momentos com o teu toque.

despedidas ao nascer e ao por-do-sol.

"
When they fly
through the night as beautiful
nighttime birds
"

(para a S.)

[20 novembro 2007]


a chuva (sonhos improváveis)

caminho pela cidade molhada, pintada com cores neutras (tristes dirão alguns).
encontro a menina do (bonito) sorriso escondido.
olhar tímido. tão frágil...
até a olhar olhos nos olhos.
tão frágil sou eu então.
olhos com as cores do céu e com a imensidão do mar.
momentos de limbo, de inquietante tranquilidade, de palavras mudas, de desejos reprimidos e sonhos improváveis.
a chuva acompanha o momento. gotas escorrem pela cara na doce troca de palavras.
o céu chora a tristeza do efémero momento. os sorrisos reflectem o calor das palavras.
os compromissos apressam a despedida que forço a não acontecer.
despedimo-nos com tristeza e um sorriso sincero.
volto a caminhar na cidade molhada, com o sorriso dela em mim.
ao contrário do que nos fazem acreditar, a tristeza, tal como a chuva, também é bonita.

(para a menina triste)


[novembro 2007]

19 novembro 2007

boa viagem

segues o teu caminho. persegues o sonho.
fiquei calado na altura de falar.
deixei passar oportunidades e no que julguei ser a última, engoli em seco na tua ausência.
foste sem saber o dia de amanhã. espero agora que haja um amanhã em que te possa falar e dizer as palavras mudas, olhos nos olhos.
disse apenas boa viagem, com receio que um até já não fosse possível, e negando um adeus, no qual não quero acreditar.
boa viagem, e se a necessidade de voltar surgir, cá estaremos.
até lá, a saudade.
boa viagem amiga! que as estrelas te guiem nas novas descobertas.

(para a A.)

[novembro 2007]

15 outubro 2007

momentos

há momentos, em que a estrada é a solução, e a música e a solidão as melhores companheiras.

[outubro 2007]

03 setembro 2007

pontes de sombras

separados por cortes que cimentam as nossas diferenças e os nossos mundos, imaginamos pontes feitas de sombras, que nos levam ao nosso cantinho nos sonhos onde ninguém nos incomoda.

(pontes de sombras)

[setembro 2007]

01 setembro 2007

telemóvel

olho o telemóvel e questiono-me se ele se tornou numa prótese, ou até mesmo um apêndice, da nossa comunicação e dos nossos sentimentos.

[agosto 2007]

silêncios 2

lembro-me de ti com bastante frequência. deixaste em mim uma magia, que por vezes preferia conseguir afastar de mim.
lembro-me de ti e quero falar-te, dizer-te pelo menos que penso em ti.
pego no telemóvel... mas desisto.
o simples pensamento da indiferença, ou da inquietude do silêncio da tua (ausente) resposta faz-me desistir.

(esta é provavelmente a forma mais segura de te falar. um dos poucos cantos onde, expostos ao mundo e no meio de muitos, conversamos só entre nós. se leres isto, aqui te digo: penso em ti, m.)

[agosto 2007]

silêncios 1

ontem, na noite, vi caras que te são familiares. procurei-te entre a multidão, mas não te vi...

[agosto 2007]

filmes das nossas vidas

existem (bons) momentos que nem um (muito) mau filme consegue estragar.

(por favor, não vejam o filme "Caçador de Sonhos". este aviso é um favor que vos faço)

[setembro 2007]

18 agosto 2007

estrela(s) cadente(s)

ironia ou coincidência... porque não ambas?...
quando já te julgava desaparecida, extinta do meu mundo, apareceste como és, numa noite tua, de estrelas cadentes.
numa noite de olhos postos no céu, a mais bonita estrela falou bem perto da terra.
assim és, uma estrela cadente, uma (mais) bonita estrela cadente.
por momentos esqueci-me de quem eras, e assumi que te tinhas extinto do meu mundo. estrela cadente que és, apenas passas por mim aleatória e raramente.
mas quando passas deixas um sorriso em mim, e um calor, tranquilo e recomfortante que só tu tens.
e eu, engano-me dizendo que és uma estrela que posso olhar todas as noites...
mas de facto és uma estrela porque sempre que os nossos olhares se cruzam, em mim fica sempre algo teu.
porque tu, estrela cadente, és uma das minhas estrelas.

[agosto 2007]

noites de verão

estranhas são as noite de verão.
no habital retorno a casa por ruas e vielas, pessoas deslocadas percorrem os mesmo caminhos.
as horas marcam o meio da caminhada até ao amanhecer, horário de sistemáticas personagens nestes calçadas.
menos no verão. dezenas de novas personagens saltam de casa, das suas rotinas estudantis e trabalhadoras, e por momentos conhecem uma parte da cidade que desconhecem.
a cidade na hora que as pedras da calçada, iluminadas pela lua, falam com os noctívagos. a hora em que as pessoas falam e as outras ouvem abraçadas pelo recomfortante silêncio da cidade. em que as estrelas caminham a passo com os solitários que deambulam ou simplesmente regressam a casa. hora das cumplicidades dos amigos e dos amantes.
estranhas são as noites de verão, onde o (o habitual) equilíbrio é quebrado, por novas pessoas, por
novos sorrisos...
novas noites traz o verão.

[julho 2007]

05 junho 2007

vazio de nós

talvez quando na (nossa) ausência olhares para trás e me chamares, não te responderei.

talvez nessa altura seja já tarde de mais. nem sei se aí te questionarás sobre o que se passou, o que poderá ter corrido mal.

talvez só algum tempo depois da nossa constante ausência, perceberás que dei muito de mim a nós, e tu pouco deste. talvez percebas que nós somos dependências, mas diferentes. eu sou dependente de ti, que quem tu és, e tu apenas és dependente de partes de mim, aquelas que em determinados momentos ao acaso precisas, esquecendo-me a maior parte do tempo... ou talvez nunca venhas a entender isto, cega pelo teu ego.

nessa altura não te responderei, não por te ignorar, simplesmente porque já não estarei contigo, nem no sítio onde sempre estive quando precisaste...

nessa altura já não estarei lá... e tu, suponho, nem me terás ouvido sair...

[junho 2007]

13 maio 2007

o rapaz do aquário

lá está ele. sentado, aninhado a um canto.
ele, o rapaz que vive no aquário vazio de fundo xadrez.
cá fora ela olha-o. tão pequenino que ele se tornou. tão pequeno que cabe num pequeno aquário rectangular.
ela abana o aquário. ele, lá dentro, rebola e vai contra as paredes de vidro.
cai e rebola... cai e rebola...
ela olha nas suas voltas e pára. ele, lentamente e de cabeça baixa, volta a dirigir-se para um canto onde se aninha. ela cá fora olha-o.
aninhado ele pensa: porque é que, por vezes, ela abre o aquário e estende a mão? porquê? se nunca lhe chega a dar a mão? se nunca o tira de lá?...
o tempo passa. lá está ele. sentado a um canto no aquário vazio com fundo xadrez da menina dos olhos dele.

[maio 2007]

09 maio 2007

sombras do que já fomos

por vezes o que nos resta é olhar para as sombras do que já fomos, enquanto andamos à deriva e somos cuspidos dos mares onde entramos...

(morte sem título)

[maio 2007]

25 abril 2007

sorriso em branco 2 (o estúpido)

um dia intenso.
caminho agora, calmamente, pelas ruas que adormecem aos poucos.
caminho com certeza que o meu próximo passo será o descanso. ainda tenho o sabor do vinho nos lábios e o seu calor em mim. um sabor forte, cheio, rico...
ao contrário de mim... hoje sou vazio. hoje sou cheio. estou cansado. o dia foi duro. inúmeras mini-viagens entre as pequenas casas de sabedoria infantil.
corridas contra o tempo (e para quê?). ansiedades.
ansiedades que terminam na noite.
sentado de olhos fechados, a ouvir uma voz como o vinho: forte, cheia e rica. uma voz como o vinho e que o vinho tão bem acompanha. a voz da menina encanta. e arrepia. faz sentir a vida dentro de nós. aquela que às vezes até nós esquecemos que existe.
mas faltou algo. faltou um pouco mais da sua voz. faltou a voz nua e crua, sem a metálica ressonância portuguesa, ou o corpo cheio de som forte e grave acompanhado pelas crescentes intermitentes batidas.
da música recomfortante saio para o frio da noite. o silêncio da noite e o seu frio fazem-me bem. acompanham bem a minha condição de solitário.
mas não me protege de ser estúpido. e pior ainda, de ser estúpido para quem não o merece.
sofrer e fazer sofrer, linha básica da minha (nossa) natureza.
agora caminho com remorsos. mas não sou capaz de dizer nada, tal como na altura não fui.
caminho ainda com a música a ecoar nos ouvidos e o vinho a temperar os lábios.
caminho só, em direcção a casa. só e calado.
talvez amanhã acorde a saber sorrir e a pedir desculpa...

[dezembro 2006]

sorriso em branco 1

saí...
fui tocar na noite, (tentar) relembrar como se sorri sob a luza da lua.
hoje parti a concha depressiva que construí nas últimas semanas. hoje saí para a rua. tentar encontrar aquele tom especial que a noite tem, tentar encontrar algo que já foi meu.
saí na noite errada. pelo menos para o que queria encontrar. a noite estava demasiado carregada de sorrisos falsos e automatismos alcoólicos que sóbrio não consigo enfrentar.
valeu a conversa que acompanhou o café e o chá, as caras conhecidas que se cuzaram no meu caminho; valeu por olhares que iluminam mais que o luar.
mas na cabeça, apenas uma troca de palavras, serena e triste... bonita portanto.
numa noite errada para sair vou colar os pedaços da concha e nela dormir. hoje não vou pensar mais, fazer mais...
amanhã é um novo dia. ao levantar verei se quero ou não voltar a partir a concha e tentar enfrentar os outros.
amanhã é um novo dia e nada é impossível. sorrir não é impossível... apenas altamente improvável.

[março 2007]

inútil

Ouço as outras vozes enquanto me questiono se te devo olhar.

Sinto-me observado e olho-te. Por um momento os olhares cruzam-se mas rapidamente se desviam devido a uma timidez que em nós existe.

Há algo em ti que me encanta. Uma aura de tranquilidade que te envolve. Não consigo evitar ser contagiado pela tranquilidade que me transmites quando falamos.

Mas por vezes, sinto e sei que não é uma tranquilidade calma. É sim triste, triste com apenas uma pequena réstia de esperança, já quase desacreditada, que tento fazer sorrir, para que vejas que ela ainda existe.

Mas sinto-me tão inútil. Inútil porque raramente consigo fazer-te sorrir, inútil por não saber dizer as palavras certas no tempo certo.

Sinto-me inútil porque me quero aproximar e não consigo ultrapassar uma barreira. Não te consigo chegar. Apenas tocar com um sorriso... mesmo que ele seja tão inútil como eu.

Sinto-me inútil quando me cruzo contigo na rua e apenas troco palavras tímidas. Quando quero conversar e não consigo. Quando quero chegar a ti, mas essa tua traquilidade impede-me de tentar forçar, por me parecer que estou a violar um espaço que é demasiado teu, que não queres que eu veja ou entre...

E então olho-te... mas penso que nem o meu silêncio fala nessas alturas.

Apenas te olho. Apenas te olho na tua bonita tranquilidade triste.

Apenas te olho e despeço-me de ti com um sorriso tímido, e muitas palavras por dizer com um chá a acompanhar.

(para a m.)

[abril 2007]

10 janeiro 2007

despedidas

a cidade está lá, sempre. aquelas ruas também. as horas acabam-se e repetem-se. existo eu e existes tu.
são momentos. são nossos.
as nossas divagações por ela, a cidade. de noite ou de dia, com ou sem trânsito, com as mãoes quentes ou frias.
ela, a cidade, já se habituou a ver, por vezes, estes nossos momentos, abraçados pelas palavras e pelo silêncio.

no final existem momentos.
e despedidas ao nascer e ao por do sol...

[janeiro 2007]